domingo, 15 de novembro de 2015

OSMUNDO

Naquele lugar tão estranho
de brigas, de armas e ganhos, 
de tudo que existe no mundo
entrou por engano o Osmundo.

Havia bebida de graça,
"bonecas", mulheres na caça,
casais transando na rua,
beldades dançando já nuas.

Num dado momento uma loura
do tipo que os dias doura
lhe trouxe um copo de quente,
chamou-o pro amor, sorridente.

Osmundo ficou num conflito:
ia ou não ia o aflito?
Se aquilo fosse arapuca, 
findasse num tiro na nuca?

Se fosse a bebida truncada,
se a loura com rosto de fada
não fosse às outras idêntica,
não fosse uma dama da autêntica?

Se o chefe do morro descesse,
cismasse com ele e lhe desse
sentença de morte por nada,
ciumento da loura assanhada?

Em pânico Osmundo sofria:
dizer um "sim" não podia,
dizer um "não" não devia,
fugir jamais poderia.

Osmundo acordou urinado,
o peito a pulsar disparado,
jurando que à igreja voltava
e a vida devassa deixava.


ÚNICA MULHER


Não era bonita nem feia,
bem longe da flor da idade, 
mas tinha protusas nádegas, 
as ancas de uma sereia
e era no bar a única.

Os homens a perfuravam 
com seus olghares sedentos,
tornados naquele momento
poetas de ocasião, 
juntando lira e tesão.

alguns a sonhavam na cama,
alguns a queriam mimosa,
fazendo promessas românticas.
Mas todos lançavam olhares
ferventes de aquebrantar.

Divina musa da noite,
bebendo, olhando pro longe,
e os homens, carentes de afeto,
a viam naquele momento
beleza maior do Universo.

O MILAGRE DOS MÚSICOS

Era a rua do Lavradio.
Era noite e, de repente, nas sacadas os músicos surgiram
E se deram a espalhar no ar os sons mais belos, melodias mais esplêndidas,
E a atmosfera se encheu de uma coisa milagrosa que não se descreve com palavras,
E brilhou nos olhos das pessoas o alumbramento de quem sente o amor nascer.

2013